Bicampeão da Copa América e novo líder do ranking, Nilceu
dos Santos, de São José, atesta: perseverança e dedicação rompem barreiras
Márcia de Faria
São José dos Campos
Nilceu 'The Flash' dos Santos passou a semana recebendo
homenagens pelo título --o segundo consecutivo-- conquistado na Copa América
de Ciclismo, no último domingo. A festa começou em São José dos Campos, onde
foi homenageado pelo patrocinador de sua equipe, a Scott/Marcondes
César/Fadenp. Depois, em Cascavel-PR, cidade onde nasceu e onde mora sua
família, o novo líder do Ranking das Américas desfilou em carro aberto do
Corpo de Bombeiros, sendo aplaudido por um batalhão de fãs.
"Fui um herói", afirmou Nilceu.
Ao contrário do que possa parecer, a frase dita pelo atleta não é um mero
'chavão', não tem conotação de convencimento e muito menos se refere ao
título recém-conquistado ou às várias medalhas obtidas em provas nacionais e
internacionais. Ser um herói, para Nilceu, é ter vencido as dificuldades da
vida para chegar aonde está hoje.
A frase, dita pelo bicampeão da Copa América, homem simples e batalhador,
chefe de família e atleta dedicado, nada mais é do que um breve resumo de
sua história de vida.
"Comecei a pedalar em competições aos 19 anos. Era um pouco tarde e quase
ninguém acreditava que eu pudesse me tornar um atleta de elite. Mas, como
tenho muita determinação e vontade de vencer na vida, cheguei onde estou
hoje", conta o ciclista, cujo apelido -- 'The Flash'-- revela seu maior
talento no esporte: a velocidade pura.
Essa velocidade que o fez, novamente, vencer a Copa América, em um sprint
sensacional no final da prova. Mas, se hoje Nilceu, aos 28 anos, é um
especialista em cima de uma bike, no começo não foi bem assim.
INÍCIO - Como a maioria dos garotos brasileiros, Nilceu
cresceu batendo bola. Na época, nem imaginava que ganharia a vida sobre uma
bicicleta.
"Eu sempre gostei de esportes, como futebol e vôlei, mas
nunca tinha visto o ciclismo. Há dez anos o ciclismo era um esporte
desconhecido no Brasil. Na época, eu usava a bicicleta como meio de
transporte", lembra o atleta.
Porém, alguns amigos de Cascavel começaram a praticar a nova modalidade e
levaram junto o jovem Nilceu. Desde o princípio, talento e garra formaram o
perfil do ciclista.
"Eu evoluí muito rápido. Em 2001 eu já estava na Memorial de Santos e, no GP
de São Paulo, minha primeira competição no Estado, já fui campeão. Em
seguida, venci a Nove de Julho, uma das provas mais tradicionais do ciclismo
nacional", conta o atleta. "Mas, para chegar a isso eu batalhei muito, me
dediquei muito e abdiquei de muitas coisas. Por isso eu digo que fui um
herói. Hoje, a molecada parece que tem preguiça de evoluir", lamenta Nilceu.
SACRIFÍCIOS - Casado com Silvana e pai de Pablo Henrique,
de 8 anos, e Milena, de 1 ano e 11 meses, Nilceu sabe bem o que é abdicar de
coisas importantes na vida, como a família, para conseguir vencer no
esporte.
Para conquistar o bicampeonato na Copa América, Nilceu
começou a intensificar os treinos logo após os Jogos Abertos, em novembro.
Natal e Ano Novo passaram quase em branco para o atleta, que teve que se
segurar nas festas para não interromper o ritmo de treino.
"Não pude esbanjar. Não exagerei na alimentação, não bebi e me sacrifiquei
para atingir o objetivo. Agora, com o título assegurado, vou me dedicar um
pouco à família", disse o atleta.
Para Nilceu, os sacrifícios valem a pena.
"Eu faria tudo de novo. Na verdade, é preciso saber que dificuldade todos
vão ter na vida. Mas temos que traçar um objetivo e passar por cima dessas
dificuldades. É comer, beber e dormir treinamento se se quiser ser um atleta
de elite. Na vida a gente tem que sacrificar algo se quiser ser algo",
ensina o campeão.